O preconceito em relação à psicoterapia ainda está enraizado entre os trabalhadores da construção civil, constituindo-se em um desafio a ser superado para a melhora da saúde mental entre colaboradores do setor. É o que observa Ricardo de Andrade, psicólogo do Seconci-SP, por ocasião Dia do Psicólogo (27 de agosto).
“Uma parte deste público demonstra resistência, mas depois que começa o tratamento, os resultados têm sido positivos. Alguns trabalhadores da construção reportam ansiedade, sobrecarga de trabalho, sentimentos de desesperança com a vida; passam muitas horas no transporte coletivo, apresentam privação de sono, alimentação não adequada e estresse, o que prejudica a produtividade, a segurança no trabalho e a própria empresa”, alerta o psicólogo.
Andrade afirma que as empresas podem ajudar consideravelmente, ouvindo seus colaboradores e identificando processos que possam ser flexibilizados. “Construtoras podem ter um olhar humanizado, abordando a saúde mental nos Diálogos Diários de Segurança, promovendo palestras sobre o tema e entendendo que cada pessoa tem suas próprias questões. Devem fazer a ponte para que os trabalhadores afetados tenham atendimento no Seconci-SP. Só este passo já é muito importante.”
Andrade lembra que saúde mental não é apenas ausência de doença, envolve estado de bem-estar físico, social e mental. “Por conta de preconceitos como o de considerar a psicoterapia ‘frescura, fraqueza ou falta de fé’, muitas pessoas resistem a se tratar, e quando finalmente o fazem, o transtorno mental é muito maior e requer mais esforço e tempo para se obter a recuperação.”
Sentimentos de depressão e ansiedade, a dependência de álcool e drogas, e o transtorno da dependência digital e do jogo patológico têm sido os casos mais frequentes. “Reconhecer o adoecimento requer do trabalhador que busque informações confiáveis sobre saúde mental, pratique autoconhecimento, e conte com uma rede de apoio sólida e forte para passar pelo tratamento com maior êxito.”
De acordo com o psicólogo, é preciso estar alerta para sinais como mudanças de apetite, isolamento e alterações do sono e da libido. “No Seconci-SP, temos psicólogos, psiquiatras e médicos de diversas especialidades que realizam avaliações e tratamentos, identificando os transtornos e ajudando os pacientes.”
Cuidado com a dependência digital
A dependência digital é extremamente destrutiva, principalmente quando associada ao jogo patológico (apostas online, entre outras modalidades), comprometendo a vida financeira da pessoa, a relação com os filhos e até levando à separação de casais, observa Andrade. “É fundamental buscar ajuda do psicólogo para ajustar a rotina dessas pessoas, diminuir os danos causados e até contar com a ajuda de psiquiatra para tratar da compulsão. Para se contrapor ao uso excessivo de telas, a recomendação é intensificar as relações pessoais, fazer atividades que não dependam só do mundo digital, dedicar-se ao relacionamento com os filhos e evitar que se isolem permanecendo horas nas redes sociais.”
Andrade observa que as redes podem ser muito prejudiciais, por motivar que os usuários se comparem às “pessoas falsamente perfeitas” que lá aparecem, gerando angústia, ansiedade e impotência. “Além disso, temos o fenômeno da erotização das crianças, sem falar das mentiras propagadas pelas redes. Tudo isso afeta a população, em especial o público adolescente mais sensível, e demanda enfrentamento pelas famílias.”
”Assim, neste Dia do Psicólogo, celebramos não só uma profissão, mas o compromisso com a vida, a esperança, o cuidado, sempre em defesa da dignidade humana. Que os trabalhadores da construção façam uso de todas as ferramentas disponíveis oferecidas pelo Seconci-SP”, almeja Andrade.