Embora seja evitável, a sífilis, uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), ainda hoje tem uma incidência preocupante no Brasil. Em parte, porque muitas pessoas desconhecem a doença, seus meios de propagação e prevenção. Esse desconhecimento e a resistência em buscar tratamento, principalmente por parte dos homens, pode levar a graves problemas de saúde e até ser fatal.
As considerações são de Luiz Carlos Takeshi Tanaka, ginecologista obstetra do Seconci-SP, por ocasião do Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita (18 de outubro, terceiro sábado deste mês em 2025). Dados do Ministério da Saúde revelam que o Brasil registrou mais de 1,5 milhão de casos de sífilis adquirida de 2010 a 2023, ano em que apareceram mais 242 mil casos.
Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis inicialmente é assintomática e pode ser transmitida sem o paciente saber. A forma mais comum de transmissão é de uma pessoa infectada para outra, durante o ato sexual sem preservativo. Também pode ocorrer por transmissão vertical, da mãe infectada para o bebê durante a gestação ou o parto, e mais raramente por transfusão de sangue.
Tanaka explica que a doença tem quatro estágios: primário, secundário, latente e terciário.
Na fase primária, surge uma única ferida, no local de entrada da bactéria (pênis, vulva ou vagina), que aparece entre três a oito semanas após o contágio. Essa lesão, rica em bactérias, é denominada cancro duro, sendo indolor. A ferida acaba sumindo após algumas semanas, com ou sem tratamento. É a fase em que a pessoa deve procurar o médico, o que muitos homens não fazem.
Já os sinais e sintomas da sífilis secundária surgem entre seis semanas e seis meses após o aparecimento e cicatrização da ferida inicial. Podem ocorrer manchas pelo corpo que, geralmente, não coçam, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés. Outros sintomas comuns são febre, mal-estar, inapetência e ínguas pelo corpo. Todos eles também desaparecem com ou sem tratamento, o que acaba dando uma falsa impressão de cura, reforça o ginecologista.
Se não houver tratamento, a bactéria permanece no organismo, pois o sistema imunológico não consegue bloqueá-la. É a fase da latência, que pode ser recente, quando aparece menos de um ano da infecção inicial, ou tardia, quando se manifesta mais de um ano depois da primeira infecção.
A fase terciária pode se manifestar na pessoa entre 1 e 40 anos depois do início da infecção. É a forma mais grave e pode provocar lesões na pele, ossos e afetar o sistema nervoso e cardiovascular. “Trata-se de um quadro grave, que afeta inclusive a saúde mental”, afirma Tanaka.
O ginecologista alerta que, além de adolescentes e jovens adultos, a sífilis tem acometido muitas pessoas da chamada terceira idade, tanto homens como mulheres. “Estas podem contrair a doença de parceiros casuais, como também do parceiro único que teve um relacionamento extraconjugal e foi contaminado. Em qualquer caso, o casal deve passar por testagem e, em, caso positivo, pelo tratamento completo.”
“Há também casos de sífilis congênita, quando a infecção é transmitida da gestante para o feto, porque a mulher não fez o pré-natal ou o fez de maneira inadequada. O tratamento precisa ser rápido, para evitar a transmissão da sífilis ao bebê, no útero ou no parto. Se não for tratada precocemente e corretamente, a doença pode causar má formação do feto, aborto espontâneo, parto prematuro e cegueira, surdez ou comprometer o desenvolvimento mental do bebê.”
Tratamento
O diagnóstico da sífilis é feito pela avaliação clínica e confirmado por exames de sangue. “O tratamento é à base de penicilina benzatina, e outros antibióticos podem ser prescritos se a doença fora resistente. Contrair a sífilis não dá imunidade à pessoa, o que mata a bactéria é o antibiótico. Se o paciente recontrair a doença, precisará fazer novo tratamento. A quantidade de doses da medicação irá depender do estágio da doença. Os parceiros sexuais também têm de ser testados e tratados, para que não haja reinfecção.”
O acompanhamento do paciente é feito por um ano e o exame de sangue repetido a cada trimestre, desde que não haja reincidência. Pessoas que integram os chamados grupos de risco demandam acompanhamento constante. No caso das gestantes, uma vez adquirido, o recomendado é refazer o exame todo mês.
O ginecologista reforça que a maneira mais segura de prevenir a doença é usar preservativo em todas as relações sexuais, pois evita a sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis. No caso das gestantes, é fundamental que seja feito o exame pré-natal, desde o início da gravidez, com a testagem do parceiro.
Portanto, finaliza Tanaka, o médico deverá ser consultado quando aparecerem feridas, ínguas (nódulos ou caroços sob a pele) ou manchas pelo corpo, para o correto diagnóstico e tratamento, evitando que essa doença, curável, evolua e gere complicações graves.
O Seconci-SP disponibiliza a testagem para sífilis e o tratamento para a doença.