Gestão de risco psicossocial na construção civil e prevenção ao suicídio foram os temas da 5ª reunião online de 2025 que o Comitê Permanente Regional do Estado de São Paulo (CPR-SP) da Norma Regulamentadora (NR) 18 realizou em 9 de setembro.
Thiago Moreno, professor e advogado especializado em Direito do Trabalho e Relações Trabalhistas, abordou em sua apresentação a Gestão de Risco Psicossocial na construção civil. Ele mostrou que, desde o início da pandemia, tem aumentado o número de casos de afastamento por transtornos mentais. Daí a urgência dessa gestão, agora incluída na Norma Regulamentadora (NR) 1 – Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais, e que também consta da NR 17 – Ergonomia, afirmou.
Segundo Moreno, quem mais circula e interage com o trabalhador na obra é o técnico de segurança do trabalho; portanto, sua participação é essencial no diagnóstico sobre risco psicossocial, que deve ser compartilhado com outros profissionais, como o médico do trabalho. O GRO (Gerenciamento de Riscos Ocupacionais) já traz as etapas de identificação de riscos e perigos, estando o psicossocial dentro da avaliação ergonômica.
Entre o trabalho planejado e o real, há uma diferença que cria o ambiente para o risco psicossocial: a expectativa do trabalhador em relação à execução de uma tarefa, associada à falta de clareza ou a exigências agressivas por parte do seu superior, pode originar um sofrimento patogênico. Evitar isso é o papel da gestão de risco, explicou o advogado.
Quanto mais trabalho e menor autonomia, mais estresse o trabalhador terá. Quanto menos trabalho e mais autonomia, idem. O trabalho precisa ter significação para a pessoa. Alta demanda e alta autonomia leva ao que Moreno chamou de sofrimento criativo, não patológico, considerado positivo. É preciso haver um equilíbrio entre demandas e recompensas ao trabalhador, enfatizou. Daí a necessidade de o gestor conhecer o perfil de cada trabalhador e conversar com ele.
Nesse sentido, é importante que o trabalhador esteja seguro e bem preparado para a tarefa que irá executar, principalmente em atividades que apresentem risco, como na construção civil. Também é preciso considerar questões externas, evitando colocar em risco o trabalhador que esteja em sofrimento por alguma questão pessoal.
Moreno recomendou que a empresa implemente a gestão de risco psicossocial e que a inclua no PGR ouvindo o trabalhador, pedindo para ele responder a questionários adaptados para a linguagem da construção civil. Se necessário, os treinamentos devem ser reformulados, envolvendo o trabalhador e o valorizando, para que ele realize as tarefas de forma significante e prazerosa.
Para evitar a ansiedade – prosseguiu –, o colaborador que trabalha com Inteligência Artificial deve enxergá-la como uma ferramenta. Para administrar o uso de celular e minimizar seu efeito viciante, o advogado recomenda que a questão seja tratada como o alcoolismo, limitando o uso do aparelho no trabalho.
De acordo com Moreno, trabalhadores da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) podem ser capacitados para interagir com o trabalhador, especialmente aquele terceirizado, às vezes analfabeto, que não quer “perde tempo” com treinamentos e cumprir tarefas para elevar sua remuneração. Outra recomendação é transmitir ao trabalhador que a saúde integrada do trabalho é para a vida dele.
Prevenção ao suicídio
Ricardo Andrade, psicólogo do Seconci-SP e especialista em Psicologia Clínica, Terapia Cognitiva e Comportamental e Saúde Coletiva, fez uma apresentação sobre o tema Conversas de Vida: Cuidando da saúde mental e prevenindo o suicídio.
Segundo o psicólogo, o sentimento de desesperança que leva à ideação de suicídio é mais frequente entre os trabalhadores da construção civil do que se imagina. Para enfrentar este cenário, é preciso entender que cada trabalhador tem uma história de vida e questões específicas, sendo necessário compreendê-las e respeitá-las. Ser ouvido eleva a saúde mental da pessoa, destacou. “A escuta empática e respeitosa deve ser levada para o nosso dia a dia.”
A campanha Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, que tem no dia 10 o seu Dia Mundial. O suicídio é um ato para acabar com um sofrimento psíquico muito intenso. É preciso estar muito atento ao comportamento suicida, que antecede o suicídio, e também prestar atenção à ideação suicida e às tentativas de colocar fim à própria vida.
De acordo com Andrade, é preciso falar sobre suicídio sem tabu, sem medo, e não silenciar. Deve-se observar se a pessoa repete muitas vezes falas sobre sua morte, afirma-se culpada, mostra baixa autoestima, revela desesperança, e se ela diz que sua vida não tem mais sentido e em breve irá nos deixar.
Outros sintomas de predisposição ao suicídio são exposições a situações de risco, irritabilidade, isolamento, aumento do consumo de álcool. O acolhimento e a escuta empática sem fazer juízo de valores são importantes para mitigar o risco psíquico. O psicólogo recomendou não interromper a pessoa, não comparar o sofrimento dela com o de outra pessoa, não deixá-la sozinha se ela já estiver preparando o suicídio, estar com ela até que se sinta confortável, ajudá-la a buscar tratamento e manter contato depois disso. O acompanhamento deve se manter, mesmo depois de uma tentativa de suicídio.
Andrade informou que o Seconci-SP tem psiquiatras e psicólogos preparados para acolher essas pessoas, além de dar palestras nos canteiros de obras e ter um grupo de apoio de tratamento de alcoolismo, drogas e vício digital. Informou que os serviços públicos de saúde também oferecem apoio e tratamento, além do acolhimento proporcionado pelo CVV – Centro de Valorização da Vida.
O psicólogo alertou que se evite o isolamento dos filhos com acesso excessivo às telas, ainda existindo jogos que, em sua última etapa, induzem ao suicídio.
O psicólogo explicou ainda que tristeza profunda, mudança de hábitos, falta de vontade e de apetite, alteração do sono e da libido são sinais de adoecimento mental. Se o quadro se mantiver por mais de seis meses, é possível que o indivíduo esteja em depressão, recomendando-se a busca por profissionais qualificados.
Preocupações excessivas, medos, agitação, nervosismo, baixa cognitiva, dificuldade de concentração, alterações do sono, sintomas intestinais e de falta de ar podem ser sintomas de ansiedade, que podem levar a uma crise. É preciso separar a ansiedade normal daquela que tira a funcionalidade da pessoa, quando é o caso de buscar ajuda.
Painelistas
A abertura da reunião foi feita por Haruo Ishikawa, membro do Conselho Deliberativo do Seconci-SP; José Bassili, gerente de SESMT Corporativo do Seconci-SP, e Marcos Antonio de Almeida Ribeiro e Sebastião Ferreira, respectivamente vice-presidente e secretário geral do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado de São Paulo (Sintesp).
A reunião ainda contou com a participação de Antonio Pereira, auditor fiscal do Trabalho e coordenador do Projeto da Construção da Seção de Segurança e Saúde no Trabalho da Superintendência Regional do Trabalho (SRTb/SP) no Estado de São Paulo.